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Channel: Direitos Humanos – VESPEIRO
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Edward Snowden e o “admirável mundo novo”

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De modo nenhum o que veio à tona foram informações novas ou revelações surpreendentes. Mas de certa forma os documentos vazados pelo ex-técnico da CIA, Edward Snowden, mostrando pormenores do sistema de monitoração de comunicações on e offline em escala global pelo governo americano oficializa uma realidade de todos e de cada um de nós bem mais que suspeitada.

Como fingir-se ultrajado por tais “revelações” num mundo onde organizações acobertadas por governos nacionais dedicam-se a atirar Boeings cheios de gente contra prédios de escritórios nos horários de pico de trabalho enquanto os proprietários das grandes encruzilhadas da internet como o Google, o Facebook e outros menos votados, todos incensados como grandes benfeitores da humanidade e paladinos da causa da “liberdade na rede”, fazem centenas de bilhões de dólares por ano gravando e vendendo a qualquer um que queira pagar por isso não apenas o mapeamento das conexões entre IPs suspeitos, como faz modestamente a CIA, mas tudo que todos nós falamos, escrevemos, mostramos, vendemos e compramos dentro da rede mundial, além do passo a passo das nossas deambulações pelo mundo físico sistematicamente plotadas, à nossa revelia, pelos GPS’s que eles embutem nos gadgets com que “nos servem”?

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A situação que tais “revelações” oficializa, portanto, é de que, diante do esboroamento do aparato de law enforcement apoiado em Estados Nacionais sem mandato para lidar com uma realidade onde tudo, a começar pelo crime, está globalizado, os Estados Unidos da América, como potência militar e tecnológica hegemônica, assumiram o papel de polícia do mundo num mundo em que nem Nova York está a salvo, o que cria uma situação paradoxal. Pois não ha uma pessoa honesta consigo mesmo que não se sinta, ao mesmo tempo, ameaçada e reconfortada com isso. Ou, no mínimo, morrendo de saudades de um mundo onde ainda era possível guardar segredos e esperar que a vida se nos revelasse aos poucos.

O chanceler Patriota e o ministro Amorin, afinados com o momento “cu na parede” do PT apressaram-se a dizer que o Brasil é muito vulnerável por carência de tecnologia ( o que nos permite antecipar que logo, logo as odebrechts da vida entrarão no ramo de satélites bancados pelo BNDES, se ainda houver BNDES), assim como dona Dilma, sem que ninguém tivesse feito muitas perguntas nesse sentido, garantiu que nunca houve autorização ou colaboração do governo brasileiro com esses expedientes de espionagem.

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Não sei se convenceram alguém…

Mas a verdade é que o problema não é de carência de tecnologia, é de mudança de paradigma tecnológico. Uma mudança que torna a rede mundial de comunicações – e não apenas ela – absolutamente indefensável.

Tudo está devassado. Nem as comunicações do Pentágono, como já se provou diversas vezes até a partir de prosaicas garagens espalhadas pela periferia do mundo, estão seguras. E esse não é, nem de longe, o maior problema que essa mudança de paradigma está provocando.

O “mundo novo” nunca se me mostrou tão “admirável” assim e esse aspecto da inexorabilidade da “aquisição” de todo e qualquer perseguido, ainda que em operações cada vez mais cirúrgicas, não faz com que ele pareça nada melhor aos meus olhos. Qualquer arma – é a história da humanidade quem o diz – pode ser (e será) usada indistintamente para o bem e para o mal…

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De minha parte, porém, os argumentos da CIA seguem parecendo mais aceitáveis, por enquanto, que os do Google, os do Facebook e cia. ltda. para meter o nariz na minha vida e, a custa disso, armarem-se com os bilhões que empregam, cada vez com menos pudor, no assassinato econômico de concorrentes.

Perturba muito mais a minha sensibilidade, igualmente, ver o comerciante de bisbilhotices ser saudado como herói da liberdade enquanto os caçadores de bin ladens são muito mais maltratados que isso. Ha qualquer coisa de doentio nesse tipo comportamento. Patologia social, digo. Coisa mais difícil de curar que doença de gente.

Na verdade, preocupam-me mais os sinais de progressiva contaminação do uso indesejável mas justificável da invasão de privacidade pelo governo americano pelas motivações indesejáveis e injustificáveis dos comerciantes de bisbilhotice que têm aparecido lateralmente nessa história do que o contrário.

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Vejo mais perigo para o futuro da humanidade no fato do governo americano usar esse aparato também para espionagem comercial e favorecimento de negócios e, portanto, também de negociantes, do que em qualquer lasca tirada de minha privacidade em nome da prevenção de atentados terroristas ou do retardamento da posse de armas químicas ou nucleares por conhecidos trogloditas internacionais.

Enquanto essas duas coisas estiverem separadas ha esperanças para o futuro da democracia. Quando se misturarem assumida e impunemente, ela estará condenada.

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Filed under: Artigos de FLM, Comportamento, Direitos Humanos, Globalização, Tecnologia

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